Não parece coincidência, ou pelo menos é impressionante: quase todos os lugares paranormais de Madrid que compõem esta lista (todos menos um, na verdade) são edifícios emblemáticos e icónicos e a sua história está tingida de crime, de assassinatos terríveis. Ou seja, a história macabra parece ser um componente crucial para que aquele edifício se torne mais tarde num espaço misterioso. Como um presságio (mau, claro).
Este é um percurso por alguns dos pontos mais críticos de Madrid, no que ao terror diz respeito. Nesta altura, e dado que a veracidade de muitas das histórias é duvidosa, coloca-se uma questão : o que veio primeiro, a galinha ou o ovo? Por outras palavras, o crime ou a lenda?
1. A Casa das Sete Chaminés
A atual sede do Ministério da Cultura esconde uma história de amor, morte e fantasmas. No século XVI, o rei Filipe II tinha uma amante (ou uma filha bastarda, dependendo de quem conta a história) e, como prova do seu amor por ela, o monarca decidiu construir-lhe uma pequena casa nos arredores de Madrid. Os arredores de Madrid, aliás, que hoje seriam o coração de Chueca. A casa seria o edifício que hoje conhecemos como La Casa de las Siete Chimeneas.
Elena, como era chamada a amante (ou filha), acabou por casar com o capitão Zapata, que morreu na Flandres. Elena, completamente destroçada, acabou por se suicidar, mas o paradeiro do seu corpo permaneceu desconhecido. Até meados do século XIX, quando foram efectuadas algumas reformas: foi então que se descobriu o esqueleto de uma mulher. Uma mulher que, anos antes (segundo os testemunhos da época), aparecia com uma túnica branca, de lanterna na mão, a passear no telhado do edifício. Costumava andar à volta das chaminés e criar medo entre os habitantes de Madrid.
📍 Plaza del Rey, 1 (centro)
2. Palácio de Linares
A história do que hoje conhecemos como Casa América tem ecos de tragédia grega; uma componente edipiana (do ponto de vista narrativo, não pelas suas implicações freudianas). José Murga y Reolid, Marquês de Linares e doravante José, seria algo como o equivalente de Yocasta: ele descobriu seu incesto após a morte de seu pai.
José tinha perguntado ao pai se podia casar com Raimunda de Ossorio y Ortega. O pai, contrariamente ao que José esperava, opõe-se ao casamento e pede ao filho que vá estudar para Londres. Durante este período, o pai morre e o filho fica a saber (através da sua correspondência) que Raimunda é sua irmã.
Longe de dissuadir o seu amor por Raimunda, os irmãos casaram e pediram ao Vaticano uma bula papal que lhes permitisse viver em castidade. A bula foi emitida, mas os irmãos não cumpriram o acordo: tiveram uma filha, Raimundita. Muito assustados e temendo que se criasse um escândalo à sua volta, assassinaram a filha, que começou a vaguear pelos corredores do Palácio de Linares.
📍 Plaza Cibeles, s/n (centro)
3. N.º 3 de António Grilo
O caso do n.º 3 de Antonio Grilo é um desses temas inesgotáveis. Um daqueles assuntos a que se pode voltar por qualquer motivo: um aniversário ou uma menção num programa de entretenimento são razões suficientes para recordar o que aconteceu aqui. Nada mais, nada menos do que oito assassínios e um suicídio em três momentos diferentes ao longo de 19 anos.
O primeiro crime ocorreu a 8 de maio de 1945. Felipe de la Braña Marcos, um fabricante de camisas, foi encontrado morto algures no quarteirão. Para gáudio da lenda, a única pista que as forças policiais da época tinham era uma madeixa de cabelo na sua mão. A tecnologia da época não permitia revelar o autor do assassínio. E assim permanece até aos dias de hoje.
Em 2 de maio de 1962, ocorreu o pior crime de todos. Os pormenores da história são geralmente escabrosos e desnecessários e quase só é preciso saber o título utilizado pela ABC para dar a notícia: “Um alfaiate mata a mulher e os cinco filhos antes de se suicidar”.
Pilar Agustín, uma jovem mãe solteira, assassinou o filho recém-nascido, escondeu o corpo na gaveta de um guarda-roupa e fechou o triângulo de homicídios no nº 3 de Antonio Grilo. Tudo aconteceu em abril de 1964.
A história inspirou o filme de terror Malasaña 32 (2020), embora se passe na década de 1970.
📍 Malasaña
4. Museu Reina Sofía
Antes de ser o que todos conhecemos, antes mesmo de ser o que muitos de nós conhecemos antes de ser o que conhecemos (um hospital durante a Guerra Civil), o Museu Reina Sofía foi um centro de internamento de loucos e crianças abandonadas. E estas questões, quando pensadas, levam a um único pensamento: poucos sítios em Madrid foram palco de tantas mortes.
Prova disso são os cadáveres (de três freiras) que apareceram há trinta anos na antiga capela do hospital. E a prova da lenda negra que este lugar arrasta consigo é o facto de diferentes operários que trabalharam na criação do que é hoje o museu terem relatado o aparecimento de três freiras nos jardins do local. Prova de tudo isto é que há pessoas que dizem que o fantasma de Picasso vagueia pelo museu, ou que os elevadores sobem e descem segundo os seus próprios critérios, ou que o espírito de um padre torturado durante a Guerra Civil também vagueia pelo local.
📍 Calle de Santa Isabel, 52 (Lavapiés)
5. Estação de metro Tirso de Molina
Na tradição literária das cidades, o Metro é sempre um lugar hostil: um lugar movimentado onde ocorrem tragédias. A sua base, para além da metáfora (a relação entre o metro e tudo o que é mau), é a da realidade. E a história da estação de metro Tirso de Molina reforça esta ideia.
A estação Tirso de Molina, aliás, nem sempre se chamou assim: quando foi inaugurada, em 1921, chamava-se Progreso. E foi construída sob os escombros do antigo Convento de la Merced (encerrado em 1834).
Sabe-se (ou talvez não) que os frades, quando morriam, eram enterrados num cemitério dentro do convento (o subterrâneo, mais uma vez). E foi isso que os trabalhadores da época encontraram: os cadáveres dos frades que tinham morrido há mais de cem anos. Perplexos e sem saber o que fazer, pediram às autoridades da época: “Ponham-nos nas paredes, depois ponham os azulejos e depois logo se vê”. O problema? O problema foi que os madrilenos começaram a ouvir os lamentos dos monges e frades que estavam aqui enterrados.
6. Igreja de San Ginés
Se a imprensa tivesse sido inventada mais cedo, ou se estes factos tivessem ocorrido mais tarde, poderíamos encontrar nos jornais da época os seguintes títulos: “Um grupo de selvagens entra numa igreja para a assaltar e decapitar um vizinho que se encontrava à sua frente”.
A igreja em questão era a de San Ginés, uma das mais antigas de Madrid, e o facto ocorreu em 1353. A exatidão da data leva-nos a crer que a primeira parte da história pode ser verdadeira. A primeira parte da história é a seguinte: os ladrões entraram no templo para o saquear, depararam-se com um velho que os confrontou e decidiram decapitá-lo para o tirar do caminho.
A credibilidade da segunda parte da história seria um pouco mais duvidosa: nos dias que se seguiram, uma sombra sem cabeça apareceu perante os vizinhos, revelou a identidade dos seus assassinos e estes foram condenados à morte. Um fantasma vigilante? Sim, poderia ser, exceto que, segundo a lenda, o fantasma do velho ainda hoje aparece.
📍 Calle del Arenal, 13 (centro)
7. A estação fantasma de Chamberí
A estação fantasma de Chamberí é um lugar cheio de mistério em Madrid. Inaugurada em 1919 e encerrada nos anos 60, esta estação faz parte do museu Andén 0 e está envolta em lendas urbanas e ocorrências paranormais. Diz-se que foi utilizada como abrigo anti-bombas durante a Guerra Civil, e alguns visitantes relataram ruídos e aparições estranhas. Além disso, a estação conserva anúncios originais em cerâmica, pelo que uma visita é também uma viagem no tempo. Durante o Halloween, são organizadas visitas guiadas para reviver estas histórias aterradoras, fazendo de Chamberí um destino fascinante para os amantes do mistério.
📍Praça de Chamberí s/n