Há um subgénero no jornalismo gastronómico que consiste na proximidade com Dabiz Muñoz. Tal como aqueles futebolistas que, com dois dribles, são apelidados de “o Messi (inserir aqui a alcunha do jovem)”, basta que um chef tenha passado pelas cozinhas do universo XO para que surjam títulos como este. E, por vezes, com razão.
É o caso de Nicolás Nájera, um chef equatoriano formado na Argentina e que trabalhou em Espanha sob a tutela do próprio Dabiz Muñoz. Foi chefe de produção do GoXo, participou no nascimento do RavioXo e, agora, dá o salto por conta própria com uma proposta sugestiva: asas grelhadas com 50 sabores de todo o mundo, servidas em formato delivery e cozinhadas com técnicas de alta cozinha. Chama-se WingWing e está a funcionar em Madrid há um mês.
A ideia não é nova, mas a execução sim. Não há fritura, não há massa… não há atalhos. Cada receita – concebida uma a uma por Nájera – é cozinhada no carvão e assenta numa premissa ambiciosa: tornar a alta cozinha acessível, em doses de oito asas a 11,5 euros. Os sabores são reconhecíveis, mas sem assustar quem só quer ver Netflix ao jantar. É feito por alguém que sabe o que é GoXo.
Asas de frango de todo o mundo
O menu é, como diz o próprio chefe, um “passaporte gastronómico” que viaja de Nova Orleães a Banguecoque, passando pelo Peru, Japão e México. Os molhos vão desde o brava da avó a um satay balinês com amendoins torrados, passando por um glacé de miso japonês ou um barbecue ao estilo de Kansas City.
Há também uma secção para os corajosos: o molho diabólico, inspirado na tradição Sichuan do “mala” (aquele picante que entorpece a língua, de que a nossa colaboradora Carmen Come falou neste vídeo). Aqui, o picante não é uma guarnição: tem malagueta habanero e malagueta de base agridoce, e é servido com um aviso. “Peça por sua conta e risco”, avisa o WingWing.
Os acompanhamentos seguem o mesmo caminho: batata esmagada, salada de repolho caseira, milho grelhado. E para a sobremesa, um inesperado arroz doce de carvão, um brownie com caramelo salgado ou uma barra de proteínas.
O WingWing funciona apenas em formato de entrega (por enquanto), mas não é fast food no sentido habitual. Ou, pelo menos, não é assim que o definem. É mais uma versão informal e saborosa da tão falada “alta cozinha democratizada”.