Encontrar um restaurante típico em Madrid, no meio das eternas aberturas e dos turistas que lotam tudo o que se pareça com uma tasca, pode ser complicado. A capital é capaz de absorver quase tudo o que recebe e torná-lo seu, e no processo é difícil manter a essência do local.
Alguns pratos típicos como as tripas e o cozido, bem como os restaurantes centenários, são o pilar para que o castiço sobreviva, estando mesmo a viver uma nova onda em que está a ser recuperado.
1. Lhardy
Émile Huguenin chegou a Madrid em 1839 e criou o Lhardy à imagem e semelhança do restaurante que fazia furor em Paris na altura, o Café Le Hardi. Este emblemático restaurante foi o primeiro estabelecimento de alta gastronomia, concebido para reunir a aristocracia da cidade nas suas salas de jantar. O Marquês de Salamanca projectou o bairro que levaria o seu nome, a Rainha trouxe aqui os seus amantes, Primo de Rivera foi um cliente habitual durante a sua ditadura e Alcalá Zamora foi aqui eleito presidente da Segunda República. Como dizia Azorín:“Madrid é inconcebível sem Lhardy“.
Embora tenha sido adquirido pela Pescaderías Coruñesas em 2021, o restaurante continua a ser decorado ao estilo do século XIX. O prato típico aqui é o cocido madrileño, servido em dois pratos, o primeiro (a sopa) é geralmente servido com pedaços de carne e frango, embora cada um o tome à sua maneira.
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📍 Carrera de San Jerónimo, 8 (Sol)
2. Casa Ciriaco
Outro testemunho incontestável da história de Madrid. Foi neste ponto da Calle Mayor, onde se encontra a Casa Ciriaco, que um anarquista bombardeou o rei Afonso XIII e a rainha Vitória Eugénia de Battenmberg quando regressavam do seu casamento nos Jerónimos a caminho do Palácio Real. A bomba não chegou a atingi-los, mas atingiu a multidão que assistia à passagem dos monarcas, tendo morrido 24 pessoas.
Para além deste trágico acontecimento, a relevância desta casa de pasto mantém-se. A intelectualidade tornou-a famosa quando Valle-Inclán transformou a taberna na Cueva de Zaratustra (Gruta de Zaratustra). Mais tarde, foi criado um encontro que foi presidido pelo cartoonista Antonio Mingote até à sua morte em 2012. De facto, é possível encomendar a galinha em pepitoria ao gosto do cartoonista e é um dos pratos típicos juntamente com as almôndegas e as tripas.
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📍 Calle Mayor, 84 (centro)
3. La Bola
Continuamos na rota do cocido, mas se o tempo não estiver bom, os callos (tripas) também são uma especialidade da casa. Em La Bola, o guisado é preparado durante mais de 4 horas em lume muito brando e sobre carvão de azinho.
Além disso, utilizam as tradicionais panelas de barro e servem-no no mesmo recipiente em que é cozinhado. Colocam-se os ingredientes crus nas panelas: grão-de-bico, água de Madrid, toucinho, batatas, chouriço e leva-se ao carvão, onde fica a cozer durante mais de quatro horas, tempo durante o qual as panelas são periodicamente enchidas com caldo.
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📍 Calle de la Bola, 5 (Sol)
4. Restaurante Botín
A Casa Botín é incombustível: o restaurante mais antigo do mundo, rei de Madrid de los Austrias. Só fechou durante os meses da pandemia; foi a primeira vez em três séculos que o restaurante centenário não serviu os seus clientes: nem mesmo durante a Guerra Civil deixou de servir refeições.
Em 1987, o Guinness Book of Records nomeou-o o restaurante mais antigo do mundo, que também menciona que Goya terá trabalhado como lavador de pratos em 1765.
A sua ementa é um bom resumo da gastronomia espanhola, com especial destaque para os assados castelhanos de leitão e borrego, bem como para as carnes grelhadas.
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📍 Calle Cuchilleros, 17 (centro)
5. Malacatín
Outro clássico tradicional é o Malacatín. Preparam cocido madrileño desde 1895, o seu lema costumava ser: “quem acaba, não paga” e agora até o servem em casa. O local é bastante pequeno, pelo que encontrar uma mesa não é tarefa fácil, mas quando se consegue encontrar uma… Entregamo-nos ao prazer com cada um dos três pratos de cocido, especialmente com a sua sopa, que é bastante densa e rica em gorduras. Mas se preferir, eles podem servir tudo junto numa única passagem.
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📍 Calle de la Ruda, 5 (La Latina)
6. Café Comercial
O Café Comercial há muito que deixou de ser um simples café para se tornar num dos restaurantes mais típicos de Madrid. Os seus sofás de couro e mesas de mármore poderiam contar mais histórias do que qualquer pessoa que lá tenha estado, embora após a remodelação pouco tenha restado da decoração original.
Esteve aberto ininterruptamente durante uns impressionantes 128 anos, até que foi obrigado a fechar devido à burocracia. As suas janelas encheram-se então de mensagens de despedida, como se a maior estrela de rock tivesse partido, mas em março de 2017 estava de volta, renovado, e com um novo “glamour tradicional”, nas palavras de Juan Luis Medina, responsável pela renovação.
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📍 Gta. de Bilbao, 7 (Malasaña)
7. Casa Macareno
A Casa Macareno é uma taberna clássica em Malasaña fundada em 1920, onde as patatas bravas brilham num menu com a quantidade certa de inovação e fios de alho e pimentos pendurados nas paredes. A prova de que o castizo está de volta é que Rosalía fez uma visita depois de um concerto em Madrid e deixou a prova no seu Instagram.
Sobreviver num bairro que sofreu tamanha transformação tem mérito, talvez a chave esteja no seu menu do dia e no cocido às quintas-feiras de inverno.
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📍 Calle de San Vicente Ferrer, 44 (Malasaña)
8. Casa Lucio
Se vem a Madrid pela primeira vez, seja qual for a altura do ano, um dos restaurantes que tem de marcar na sua lista é a Casa Lucio. Os huevos rotos da Casa Lucio são, sem dúvida, os mais famosos, não só em Madrid, mas também em Espanha.
De facto, o sucesso deste prato ultrapassa fronteiras, provado por lendas do pequeno e grande ecrã, como Tommy Lee Jones, Will Smith ou Eva Longoria. O restaurante abriu em 1974 e o seu sucesso não parou desde então. O seu prato emblemático também pode ser apreciado em La Taberna de los Huevos de Lucio, gerida pelos filhos do taberneiro. Com um ambiente mais descontraído, o seu menu oferece outras variedades, como as com chistorra, presunto ou ratatouille.
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📍 Calle de la Cava Baja, 35 (La Latina)
9. Casa Alberto
Os madrilenos têm vindo a esta taberna em Las Letras para um copo de vinho e uma tapa de bacalhau ou tripas desde 1827. A Casa Alberto ainda tem a lendária fachada vermelha dos restaurantes que estão abertos há mais de cem anos e o seu letreiro com um fundo preto e letras douradas. Antes de abrir neste mesmo espaço foi o edifício em que Cervantes escreveu a segunda parte de Dom Quixote, pelo que para o comemorar existem alguns objectos que recordam a obra e a vida do grande escritor espanhol.
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📍 Calle de las Huertas, 18 (Las Letras)
10. Café Gijón
O Café Gijón viu passar pelas suas paredes de madeira o melhor da Geração de 27, tomando o lugar como ponto de encontro e debate. A lista de grandes personagens é interminável e louca, até a própria Mata Hari foi vista aqui. Faz parte da história moderna de Espanha, e continua a ser uma paragem essencial para ver e ser visto na capital.
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📍 P.º de Recoletos, 21 (Centro)