A expansão burguesa da cidade é o bairro de Salamanca, com as suas grandes avenidas e ruas ordenadas, onde embaixadas palacianas, como a embaixada de Itália, alternam com as lojas e restaurantes mais luxuosos. Embora ninguém o conheça como tal, é de facto um distrito que tem seis bairros: Recoletos, Goya, Fuente del Berro, Guindalera, Lista e Castellana. O bairro adopta o nome do seu promotor, criador e construtor: o Marquês de Salamanca.
Em meados do século XIX, a Villa y Corte começava a tornar-se pequena e antiquada e José de Salamanca y Mayol, o Marquês, gastou a sua fortuna na criação deste novo bairro, mais moderno, mais higiénico (sanitários nas casas de banho e água corrente incluídos) e mais europeu. Nunca recuperaria financeiramente, mas a cidade ganhou o seu bairro mais pujante e próspero, que se mantém tão rico e exclusivo como foi concebido.
O que ver no bairro de Salamanca
A Casa Árabe
A Casa Árabe está situada numa espécie de ilhota entre as ruas em frente ao Retiro. Trata-se de um edifício neo-mudéjar construído em 1886 pelo arquiteto Emilio Rodríguez Ayuso, que o concebeu como um edifício capaz de albergar espaços educativos muito inovadores para a época, como um ginásio, uma biblioteca, um museu escolar, um parque infantil, uma sala de música e até um observatório meteorológico situado na torre. Em 2006, foi aqui instalada a Casa Árabe, um centro estratégico para as relações de Espanha com o mundo árabe.
📍 Calle de Alcalá, 62
Escola El Pilar
A história moderna deste país foi forjada nos corredores do Colégio Nuestra Señora del Pilar. Rubalcaba, Aznar, Savater, Cebrián? A lista de pessoas importantes que foram educadas neste colégio é longa e os pais que todos os anos fazem fila durante um dia e meio para inscrever os seus filhos sabem-no. O edifício, de estilo neogótico e medievalista, data de 1910 e foi fundado pela Condessa de Vega del Pozo e pela Duquesa de Sevillano para dar formação e instrução a raparigas pobres.
📍 Calle de Castelló, 56
Museu Nacional de Arqueologia
Só a sua arquitetura (uma remodelação levada a cabo por Frade Arquitectos em 2008) faz com que valha a pena entrar neste espaço de linhas suaves, pontos de fuga infinitos e uma estética que continua a respeitar fielmente a essência do que foi: o Palácio da Biblioteca e Museus Nacionais, um edifício neoclássico do século XIX que partilha espaço com a atual Biblioteca Nacional.
No exterior, há um jardim encantador e uma réplica da Gruta de Altamira, que se encontra neste canto da cidade desde os anos 1960. No interior, 40 salas e mais de 13.000 objectos arqueológicos. Da Pré-História à Grécia, passando pelo Egito, o MAN é um lugar para ir e não deixar de voltar: a Dama de Elche, a Dama de Baza (imperdível), os touros de Costitx, o Caixão de Taremetchenbastet ou a impressionante caixa de ushebtis de Khabekhent? uma concentração das grandes peças que explicam as civilizações.
📍 Rua Serrano, 13
Madrid moderna
As casas da Madrid Moderna (casas de estética modernista situadas no bairro de Guindalera) começaram a ser construídas em 1890 e foram demolidas durante a década de 1970, enquanto alguns dos vizinhos se opunham a esta destruição. E apesar de, na altura, terem sido construídas cem casas modernistas, restam agora apenas uma dúzia de casas. Os restos de uma Madrid que já não existe.
📍Distribuídas entre a Calle Castelar e a Calle Roma.
Torre de Valência
A Torre de Valencia, obra emblemática do brutalismo madrileno e um dos edifícios residenciais mais espectaculares de Madrid, não passa despercebida.
Com 94 metros de altura e 27 andares, a Torre de Valencia é atualmente o décimo quinto edifício mais alto de Madrid e um dos edifícios mais conhecidos do arquiteto Javier Carvajal. Qualquer menção à história da Torre de Valência é normalmente acompanhada por uma pergunta: como é que um edifício tão alto pôde ser construído numa zona como esta? Com algumas peripécias burocráticas.
📍Calle de O’Donnell, 4, e avenida de Menéndez Pelayo, 9
Palácio Amboage
O que é atualmente a embaixada italiana foi outrora o palácio do Marquês de Amboage, um dos mais emblemáticos da cidade. Este gigante de um quarteirão, construído no início do século XX, albergou a Câmara Municipal de Madrid durante um período em que a capital foi devastada pela Guerra Civil. Com acabamentos em mármore, bronze e ferro forjado, o seu vitral de Maumejean, a sua coleção de arte e outros elementos decorativos fazem desta residência de 1350 metros quadrados um dos maiores tesouros do bairro.
Museu Casa de la Moneda
Situado junto à Fábrica Nacional de Moneda y Timbre, este museu é conhecido por muitos por ter sido um dos alvos daquele que é provavelmente o bando de ladrões mais conhecido da ficção espanhola. No entanto, nem todos sabem que os locais onde La Casa de Papel foi efetivamente filmada correspondem ao Consejo Superior de Investigaciones Científicas e às prensas do jornal ABC. Para além das suas referências na ficção, este é um dos mais importantes museus do mundo neste género. A sua coleção inigualável permite aos visitantes explorar a história do dinheiro desde as suas origens e, além disso, a sua visita é gratuita.
📍 Calle Dr. Esquerdo, 36
O que comer no bairro de Salamanca
Treze
Uma das visitas obrigatórias em Salamanca: Treze está na nossa lista dos melhores menus do dia, um reconhecimento apoiado por muitos e que foi merecido por uma proposta gastronómica que tem oferecido qualidade a um bom preço desde que abriu as suas portas em 2010. Quer se aproveite ou não o seu menu diário, comer no Treze é sempre uma boa ideia.
📍 Calle del General Pardiñas, 34
Bel Mondo
Bel Mondo é aquele restaurante italiano que se equilibra na linha entre o bom e o foleiro. O difícil num mundo conquistado por pratos de massa é que um deles nos surpreenda, e este restaurante consegue fazê-lo. A sua cozinha é muito autêntica, apesar de parecer um pouco mais simples. A sua cozinha é muito autêntica, apesar de parecer o cenário de um filme romântico rodado em Little Italy, a maioria dos seus trabalhadores é originária do país da carbonara sem natas. Desde a sua abertura, é um dos principais restaurantes italianos da cidade.
📍 Calle de Velázquez, 39
Casa Dani
A essência do bairro perde-se no meio de tantas lojas de luxo, mas quando se entra no Mercado de la Paz algo se recupera e a Casa Dani é um fator fundamental. É difícil igualar a omelete espanhola neste sítio. Não háprémio,não há especialista que possa explicar o sabor deste pão com ovo e batata. Dizer que é a melhor omelete de Espanha não é um exagero.
📍 Calle de Ayala, 28B
O canto secreto
Que os espaços de restauração de Salvador Bachiller estão entre os restaurantes mais bonitos e instagramáveis de Madrid não é segredo para ninguém. Cada um deles, embora partilhe o mesmo cuidado em termos de decoração e cuidado com o espaço, é diferente, e o seu quartel-general no bairro de Salamanca é El Rincón Secreto. A empresa define-o como um espaço “clandestino e inesperado”, decorado ao estilo dos salões de chá ingleses.
📍 Calle de Alcalá, 151
Terracota
O menu do Terracotta tem um fator mínimo que diz muito sobre o restaurante. Cada dia é impresso num papel e o DIN A4 correspondente tem um carimbo na lateral onde se pode ler a data. Por outras palavras, não verá o mesmo menu se for num dia e noutro; por outras palavras, o menu do Terracotta depende do mercado; por outras palavras, depende também da estação. O Terracotta é um restaurante animado.
Alguns dos seus pratos: o socarrat (com uma base forte, nada a ver com o arroz valenciano, o arroz é perfeito) ou o caldo de ramen com foie, siu mai de tenera com aroma cítrico e ovo a baixa temperatura.
📍Calle de Velázquez, 80
Restaurante Marcano
Não é de estranhar que a palavra casa acompanhe a crítica individual do Marcano. O sentimento é puramente caseiro, com uma ressalva: não há ninguém em casa que cozinhe como David Marcano. Com experiência nas cozinhas do Arzak e do Wellington, Marcano lançou há alguns anos um projeto mais do que consolidado no bairro de Salamanca. Um sítio onde se pode comer bem com duas bases inamovíveis: a experiência de Marcano e o produto. A qualidade deste último, tal como o esforço do treinador do Atlético de Madrid, não é negociável. Deveria ser obrigatório pedir os arrozes, o peixe, a ensaladilla e, claro, a gilda.
📍Calle del Doctor Castelo, 31
Restaurante Santerra
https://www.youtube.com/watch?v=IanIfamMwhY
Os melhores croquetes de Madrid(e do mundo). Se procura um restaurante com base nos argumentos que este lhe pode dar, não há melhor justificação do que esta. Os croquetes são feitos com presunto e o autor é o chef Miguel Carretero. Em 2018 ganharam o prémio para o melhor croquete do mundo no Madrid Fusión. E em 2022 revalidaram esse prémio. Você vem a Santerra para o croquete e fica para o resto.
Calle del General Pardiñas, 56
BiBo de Dani García
Outro garante de qualidade é Dani García: os seus restaurantes têm acumulado estrelas Michelin (o Smoked Room ganhou duas em apenas seis meses de abertura) e o BiBo é uma aposta segura. Um dos grandes atractivos deste restaurante (para além do espaço) é o brunch que oferece: uma proposta 360º, inovadora e criativa . Para provar, como brioche de rabo de boi, lagostins de Sánlucar e sandes de mortadela de Bolonha. Para a sobremesa, um gelado “nitro”. O espaço, iluminado por 7.000 lâmpadas, recria o ambiente da Feria de Málaga.
Paseo de la Castellana, 52
42 € com este plano.
Yue Lai
Um desses restaurantes que permitem viajar sem sair de Madrid está no bairro de Salamanca e é, de facto, um dos melhores restaurantes chineses da cidade. Sem dúvida, Yue Lai é o lugar certo para aprender a arte do hot pot, uma técnica culinária em que a comida é cozinhada na própria mesa, introduzindo os ingredientes num caldo quente colocado no centro. Autenticidade a um bom preço.
Calle Hermosilla, 101
Café no bairro de Salamanca
Café Especial Religião
O café, para muitos, é religião. É a luz que guia as nossas manhãs e o sabor amargo que desperta as nossas papilas gustativas, ajuda a levantar as persianas dos nossos olhos e… alimenta a alma. O Religion Speciality Coffee chegou à cidade em 2018 para arrebatar os prémios do café. Ao longo dos anos, formou também uma legião de peregrinos e devotos que se deslocam ao bairro de Salamanca para provar um dos melhores cafés de Madrid.
E muito mais, claro, porque a ementa está repleta de todos aqueles pratos que nos fazem salivar: tostas de pão de centeio com abacate, ovo escalfado e rabanetes; bagels veganos de ricota, heura e alface; ovos turcos com labneh caseiro, ovos escalfados, halloumi, pepino, um molho muito picante e pão… ou esse pecado capital que é o waffle belga com abacate, feijão, tomate, coentros e halloumi.
María de Molina, 34
Hat Coffee
O comentário habitual sobre o Hat Coffee costuma coincidir: tropeçamos no local por acaso e encontramos um café tão requintado que vale a pena recomendá-lo. Os pequenos-almoços e brunches seguem o mesmo padrão de qualidade, especialmente as suas tostas, que são grandes e têm quase tantos ingredientes como uma pizza (de facto, há algumas com pesto). Também servem bagels e biscoitos ao estilo americano.
Calle de Padilla, 68
O que fazer no bairro de Salamanca
Parque Quinta de la Fuente del Berro
Canteiros de flores, fontes, estátuas, passeios idílicos entre árvores e plantas… e, quando se olha ao longe, Torrespaña entre a vegetação. O Parque de la Quinta de la Fuente del Berro nasceu no século XVII como uma aldeia de recreio, para ser aberto a todos os madrilenos em 1954 (quando passou a ser propriedade municipal).
Esta Quinta era famosa por ser um lugar fértil, uma fonte de água. A famosa fonte que dá o nome à Quinta (e ao parque) era acessível a todos os vizinhos, e a Casa Real também era alimentada por ela. Foi o rei Carlos III que decidiu que a fonte deveria fazer parte da Quinta, retirando-a do olhar dos vizinhos e rebaptizando-a de “Fuente del Rey” (Fonte do Rei). A sua água foi depois canalizada para o Palácio do Buen Retiro.
O parque viveu com as mudanças arquitectónicas e o crescimento da cidade de Madrid. Atualmente, está enclausurado num dos seus limites pela estrada circular M30. Apesar de tudo, consegue manter o seu carácter intimista, longe da azáfama das ruas, e o desenho dos jardins ingleses do início do século, que tanta paz e harmonia traz.
Calle del Alcalde Sainz de Baranda, 94
Livraria Pérgamo
Há alguns meses, os madrilenos ficaram um pouco desolados com o encerramento de uma das livrarias “míticas” da cidade. Felizmente, o milagre chegou mesmo a tempo. E a Pérgamo permanecerá aberta desde a sua inauguração em 1944 e continuará a ser a livraria mais antiga de Madrid. Em dezembro de 2021, Lourdes e Ana Serrano, as irmãs que tinham herdado a livraria dos seus pais, anunciam a sua reforma e, com espanto e tristeza, o encerramento da livraria. Como acontece na vida, um empresário que fazia compras em Pérgamo desde criança decidiu manter as suas portas abertas.
Calle del General Oráa, 24
Museu Lázaro Galdiano
Este é um daqueles museus em Madrid que não é muito conhecido, mas que vale bem a pena visitar. A sua coleção tem mais de 12.000 obras de arte, incluindo obras-primas de artistas como Goya, El Greco, Velázquez, Murillo e Federico de Madrazo. Para além disso, o próprio palácio e o seu jardim merecem uma visita por si só.
O horário de visita é de terça-feira a sábado, das 10h às 16h30, e aos domingos, das 10h às 15h. A entrada geral custa 7 euros e a entrada reduzida custa 4 euros, sendo gratuita durante a última hora de abertura para crianças com menos de 12 anos, desempregados e professores.
📍 Calle de Serrano, 122
Igreja de San Manuel e San Benito
Poderia pertencer a esse grupo de igrejas que devem ser visitadas pela sua originalidade em Madrid, e a sua história não é menos fascinante do que a sua arquitetura: foi a “casa” dos agostinianos e a sede do Partido Comunista. Embora seja verdade que não passa despercebida por estar localizada em frente ao Parque do Retiro, poucas pessoas sabem o que se esconde no interior deste impressionante edifício religioso de estilo neo-bizantino de Madrid.
A sua decoração, baseada em tesselas coloridas e mármore de Carrara e Macael, merece uma visita. Data do início do século XX e foi projetado por Fernando Arbós y Tremanti, o mesmo homem que deu forma ao Panteão dos Homens Ilustres e ao panteão da família Bauer, situado no cemitério britânico.
📍 Calle de Alcalá, 83
Museu de Escultura ao Ar Livre de Castellana
Em Madrid, a arte não se encontra apenas nos museus, no sentido mais convencional da palavra: a própria cidade também se torna, temporária ou permanentemente, um espaço de exposição. É o caso do Museu de Escultura ao Ar Livre da Castellana.
Desde 1970 que se encontra sob o viaduto que une Juan Bravo e Eduardo Dato e abriu ao público em 1972. Ocupa 4.200 metros quadrados e conta com obras de artistas como Chillida, Francisco Sobrino, José María Subirachs, Rafael Leoz, Eusebio Sempere, Andreu Alfaro e Marcel Martí.
📍 Paseo de la Castellana, 40
Tatuagem Cornelius
Um dos melhores estúdios de tatuagem de Madrid. Quando se fala de tatuagens, diz-se muitas vezes, erradamente, que não há nada escrito sobre gostos. Há muito escrito e muito pensado. E no Cornelius Tattoo há artistas muito talentosos como Surimi, El Bueno e El Raro.
📍Calle del Duque de Sesto, 48
O bairro de Salamanca é de visita obrigatória. Parece estático no tempo e de uma beleza fria, mas as suas ruas albergam recantos gastronómicos, arquitectónicos e culturais adequados a todos os públicos e carteiras.
Este artigo foi escrito por Alberto del Castillo, María F. Carballo, Selene García, Isabel Nieto e Elena Francés.